A conta do calor: estudo mostra queda na produção de café devido ao aumento do estresse térmico
Estudo recente mostra que calor excessivo já compromete tanto a saúde ocupacional quanto a sustentabilidade da cafeicultura em diferentes regiões do país.
A cafeicultura brasileira, reconhecida mundialmente pela relevância econômica e social, enfrenta novos e crescentes desafios diante das mudanças climáticas. Um estudo publicado na Revista Derecho y Cambio Social DCS (v.22, n.82, 2025) - Qualis A2, por servidores do IFSULDEMINAS - Campus Muzambinho, analisou dados de 2010 a 2024 e revelou que o aumento das temperaturas médias e a intensificação de eventos extremos estão ampliando os riscos de estresse térmico ocupacional e, simultaneamente, afetando a produtividade das lavouras de café.
O artigo é assinado pelos servidores do IFSULDEMINAS – Campus Muzambinho: Lucas Deleon Ramirio (técnico-administrativo), Geraldo Gomes de Oliveira Júnior (docente), Lucas Eduardo de Oliveira Aparecido (docente), Luiz Fernando de Oliveira (técnico-administrativo), Rogério William Fernandes Barroso (técnico-administrativo) e em colaboração com o professor Fernando Ferrari Putti, da Universidade Estadual Paulista (UNESP), campus de Tupã.
O estudo
Intitulado “Efeitos das mudanças climáticas sobre o estresse térmico ocupacional e a produtividade cafeeira no Brasil (2010–2024)”, o estudo analisou séries históricas de dados climáticos e produtivos em seis dos principais municípios cafeeiros do país – Cacoal (RO), Porto Seguro (BA), Linhares (ES), Muriaé (MG), Patrocínio (MG) e Varginha (MG) e os resultados evidenciaram um cenário preocupante:
- aumento progressivo da sobrecarga térmica sobre trabalhadores rurais, com frequente superação dos limites de exposição ocupacional;
- correlação negativa entre elevação da temperatura média e produtividade cafeeira, sugerindo que ambientes mais quentes reduzem a produção. Ambientes mais quentes tendem a restringir o desempenho das lavouras. Patrocínio/MG, por exemplo, apresentou a menor média térmica (24,5 °C) e a maior produção anual de café (62,5 mil toneladas), enquanto Muriaé/MG, com média de 26,4 °C, registrou menos de 5 mil toneladas anuais;
- necessidade urgente de estratégias adaptativas, como reorganização das jornadas de trabalho, investimentos em tecnologias de mitigação térmica e adoção de práticas agrícolas mais resilientes.
O Índice de Bulbo Úmido Termômetro de Globo (IBUTG), parâmetro internacional que mede a sobrecarga térmica, apresentou tendência de elevação constante nos últimos 15 anos. Em muitos casos, os valores ultrapassaram os limites de ação e até mesmo os limites de exposição ocupacional definidos pelas normas brasileiras de saúde e segurança do trabalho, especialmente no verão e no período crítico entre 11h e 15h. Os autores utilizaram dados meteorológicos do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) e séries históricas de produtividade fornecidas pelo IBGE.
Para os autores, os achados evidenciam que “as mudanças climáticas impactam de maneira simultânea a saúde dos trabalhadores rurais e a produtividade do café, setor estratégico para a economia e identidade nacional do Brasil”. Os dados indicam que o calor extremo já representa uma ameaça concreta à saúde dos trabalhadores rurais, que ficam expostos a riscos de exaustão, desidratação e redução da capacidade física durante atividades como plantio, adubação e colheita.
A pesquisa conclui que o aquecimento progressivo das condições ambientais no Brasil afeta de forma simultânea o bem-estar humano e o rendimento agrícola. Para garantir a viabilidade da cafeicultura, considerada um dos pilares do agronegócio nacional, será indispensável ampliar as políticas públicas, investir em tecnologias de mitigação térmica e adaptar o planejamento das safras.
“Os resultados evidenciam que o calor excessivo não compromete apenas a produtividade, mas também a saúde e a segurança dos trabalhadores rurais. É fundamental integrar medidas de adaptação que assegurem o futuro da cafeicultura no país”, destacam os pesquisadores.
Recomendações
Diante desse cenário, os autores do estudo reforçam a urgência de adotar estratégias que conciliem proteção da saúde ocupacional e sustentabilidade agrícola, tais como:
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reorganização das jornadas de trabalho, priorizando horários com menor carga térmica;
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implantação de áreas sombreadas e incentivo à hidratação contínua;
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uso de cultivares mais resistentes ao calor;
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adoção de práticas agronômicas resilientes, como manejo hídrico eficiente e sombreamento das plantas.
Sobre a revista
A Derecho y Cambio Social – DCS é publicada trimestralmente e se destaca pela abordagem interdisciplinar, reunindo artigos de pesquisadores de diferentes áreas em torno de problemáticas contemporâneas. Reconhecida pela CAPES como Qualis A2, a revista tem se consolidado como espaço de difusão de trabalhos que contribuem para o avanço da ciência e para a integração entre comunidades acadêmicas de diversos países.
A publicação em um periódico internacional de alto impacto reforça o protagonismo do IFSULDEMINAS na produção científica voltada a temas de interesse global, como mudanças climáticas, saúde ocupacional e segurança alimentar.
Além de valorizar a pesquisa desenvolvida no interior de Minas Gerais, o trabalho demonstra a contribuição da instituição para o avanço científico e para a construção de soluções que dialogam com os desafios da sociedade contemporânea.
TEXTO: Tatiana de Carvalho Duarte
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