Estudo aponta impactos das mudanças climáticas na produção de biocombustíveis
Quem já conhece a Jatropha curcas? Nunca ouviu falar?
Conhecida pelos nomes comuns de purgueira, pinhão-manso, jatrofa, mandubiguaçu, pinhão-de-purga e pinha-de-purga, trata-se de uma planta que vem ganhando destaque como fonte de energia renovável devido às suas características de planta perene, matéria-prima não comestível, de baixo custo e de fácil manejo, tornando-se uma opção promissora para produção de biocombustíveis.
O Docente do IFSULDEMINAS - Campus Muzambinho, Lucas Eduardo de Oliveira Aparecido, divulgou estudo sobre a importância da adaptação às questões climáticas no agronegócio. A pesquisa enfatiza, especialmente, a necessidade de estratégias adaptativas, como o zoneamento climático, para ajudar a otimizar a produção de biocombustíveis e mitigar os impactos das mudanças climáticas nas plantações de Jatropha curcas.
A análise também conta com a autoria dos docentes Guilherme Botega Torsoni, Ana Claudia Costa Baratti, Maíra Ferreira de Melo Rossi, João Antonio Lorençone,Pedro Antonio Lorençone e Rafael Peron Castro, em uma colaboração dos Institutos Federais do Sul de Minas, do Mato Grosso do Sul e da Universidade Federal de Lavras.
O estudo está disponível na revista Biomass and Bioenergy, reconhecida mundialmente por sua excelência acadêmica e impacto significativo na área de energias renováveis e sustentabilidade.
De acordo com os autores "as alterações climáticas globais projectadas para as próximas décadas poderão alterar as condições ambientais de formas que impactam significativamente a viabilidade agronômica e econômica das plantações". Assim, o zoneamento projetado para cenários de mudanças climáticas é uma ferramenta crucial para a gestão sustentável e expansão das plantações.
Importância global
A pesquisa é baseada em projeções climáticas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC - Intergovernmental Panel on Climate Change) e inclui uma análise abrangente do zoneamento agroclimático para J. curcas em toda a América do Sul, abrangendo 14 países. Isso oferece importantes insights para as práticas agrícolas e a produção de biocombustíveis no futuro.
De acordo com os autores "Atualmente, grande parte da América do Sul é classificada como adequada para o cultivo de J. curcas. Em contraste, as regiões do centro-sul Argentina, Chile e partes da Bolívia e Peru foram considerados inadequados devido ao risco de geadas.Há uma tendência de diminuição de áreas marginalmente adequadas devido a deficiência térmica ou excesso de água, bem como áreas inadequadas devido ao risco de geada para a maioria dos países".
Dessa forma, enquanto alguns países terão de 50 % a 100 % de aumento na quantidade de área inadequadas ao plantio, devido ao aumento da temperatura; Na Colômbia, por outro lado, é esperada a redução de aproximadamente 50% em áreas consideradas inadequadas por excesso água.
As principais variáveis analisadas foram: temperatura média anual (◦C) e precipitação anual (mm). Com destaque às conclusões:
- Regiões Atuais Adequadas: Grandes porções da América do Sul são atualmente adequadas para o cultivo de J. curcas, com exceções nas regiões mais frias e áreas afetadas pelo risco de geada.
- Impacto Climático Projetado: Espera-se que as mudanças climáticas alterem a adequação das áreas para o cultivo de J. curcas. Um aumento significativo nas áreas inadequadas devido ao excesso térmico é previsto.
- Impacto dos Extremos Climáticos: O estudo prevê uma redução significativa nas regiões adequadas devido a mudanças nas temperaturas e precipitação, particularmente em cenários climáticos mais extremos.
Consequências econômicas e soluções
De acordo com a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, "Biocombustíveis são derivados de biomassa renovável que podem substituir, parcial ou totalmente, combustíveis derivados de petróleo e gás natural em motores a combustão ou em outro tipo de geração de energia".
Os autores destacam que um aumento de 11,7% no uso de biodiesel é projetado para o Brasil. E que a "Produção de biodiesel requer seleção cuidadosa de matérias-primas e uso eficiente de catalisadores. Atualmente, mais de 95% do biodiesel é produzido utilizando óleos comestíveis, o que pode impactar os preços de alguns alimentos, especialmente em países em desenvolvimento. Isto também afeta o preço final do biodiesel".
Eles sugerem, assim, que deveria ser priorizada a utilização de matérias-primas não comestíveis e de baixo custo, como a Jatropha curcas. Que é uma planta que tem ganhado destaque como fonte de energia renovável. "A expansão em áreas cultivadas com J. curcas, espécie perene, reforça a segurança na transição energética, em linha com os compromissos internacionais, e promove a intensificação sustentável da
áreas cultivadas, aumentando a descarbonização atmosférica".
COP 30 e os biocombustíveis
Em 2025, ocorrerá no Brasil a COP30, 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, um encontro global anual onde líderes mundiais, cientistas, organizações não governamentais e representantes da sociedade civil discutem ações para combater as mudanças do clima.
O estudo cita que "a produção global de biocombustíveis aumentou mais de dez vezes entre 2000 e 2019, impulsionado pelo consenso científico sobre gases de efeito estufa e mudanças climáticas antropogênicas apresentadas no relatório do tratado ambiental internacional, conhecido como Protocolo de Quioto".
Em tempos de debates como esses, destacamos a natureza colaborativa do estudo, envolvendo instituições como o IFSULDEMINAS - Campus Muzambinho, o IFMS e a Universidade Federal de Lavras (UFLA) no enfrentamento de desafios globais tão intensos.
TEXTO: Tatiana de Carvalho Duarte
IMAGENS: Autores
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