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Estudo aponta alta taxa de devolução de animais adotados no Sul de Minas

Publicado: Segunda, 30 de Agosto de 2021, 15h03 | Última atualização em Quarta, 01 de Setembro de 2021, 09h05

PHOTO 2021 08 26 16 07 13Você sabia que apenas 8,2% dos animais que estão em abrigos da mesorregião do Sul/Sudoeste de Minas Gerais conseguiram um lar de adoção no período entre novembro de 2019 e janeiro de 2020?

E para agravar esse cenário, você sabia que destes animais que foram adotados, cerca de 85% foram devolvidos aos abrigos?

Esse triste cenário foi observado em um estudo feito entre novembro de 2019 e janeiro de 2020, que teve como objetivo gerar uma análise descritiva do bem-estar canino em uma amostra de abrigos de longa permanência no Estado de Minas Gerais, sob administração municipal ou de organizações não governamentais.

O artigo "Dog welfare using the Shelter Quality Protocol in long-term shelters in Minas Gerais State, Brazil" divulgado pelo Journal of Veterinary Behavior foi escrito pelos professores dos cursos de Medicina Veterinária do IFSULDEMINAS – Campus Muzambinho, Diana Abrão Cuglovici e da UNIFENAS, Pedro Ivo Sodré Amaral.

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A avaliação dos abrigos

Os pesquisadores avaliaram 19 abrigos, de 13 cidades, entre novembro de 2019 e janeiro de 2020.

As cidades estudadas foram Alfenas, Campo do Meio, Campos Gerais, Carmo do Rio Claro, Guaxupé, Muzambinho, Poço Fundo, Poços de Caldas, Pouso Alegre, Santa Rita do Sapucaí, São Lourenço, Três Corações e Varginha.

Destes, 36.8% são gerenciados por organizações não-governamentais, 52.6% são gerenciados por agentes municipais e 10.5% em uma união de ambas autoridades.

Foi utilizado o Protocolo de Qualidade do Abrigo (SQP), gerando uma análise descritiva que identificou os aspectos críticos destes estabelecimentos.

De acordo com a professora Diana “o abandono de animais é frequente no Brasil, mesmo sendo considerado crime previsto no artigo 32 da Lei n° 9.605/98 (BRASIL, 1998). O abandono causa impactos importantes no bem-estar do animal, uma vez que nas ruas, os cães podem sofrer maus tratos, padecer de doenças, sentir fome, sede ou frio. Entretanto, uma vez recolhidos em centros de controle de animais, não estão isentos de condições inaceitáveis de bem-estar”.

Assim, o objetivo do estudo foi o de utilizar a ciência para provar que abrigos não são ideais nem para o bem-estar dos animais nem para a saúde pública nos municípios e, assim, incentivar o desenvolvimento de novas estratégias de manejo populacional mais efetivas nas cidades de Minas e do Brasil.

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Condições precárias encontradas nos abrigos

Os pesquisadores contabilizaram 1.450 cães hospedados em 19 abrigos estudados. Dados que inferem em uma média de 76,3 cães por abrigo, alojados em 261 baias diferentes, estabelecendo média de 13,7 baias por abrigo.

Os autores destacam que “o típico abrigo possui, em média, animais mestiços, com idade acima de dois anos e que comumente apresentam problemas comportamentais, o que torna sua adoção ainda mais difícil. Quando adotados, os tutores costumam relatar excesso de atividade e de latidos entre outros problemas comportamentais, o que aumenta as chances de serem devolvidos aos abrigos ou abandonados nas ruas novamente”.

De acordo com a autora Diana Abrão Cuglovici, “a falta de condições ideais para a saúde física e mental dos cães abrigados é devido à superlotação destes ambientes e falta de recursos financeiros e humanos. Tudo isto se soma à falta de políticas públicas efetivas de manejo populacional de cães nos municípios”.

Diana alerta que “a falta de políticas públicas efetivas no controle populacional humanitário de cães, somado ao seu recolhimento indiscriminado em abrigos, acaba fazendo com que estes animais passem grande parte de suas vidas confinados. Visando a avaliação do grau de bem-estar de cães abrigados com uso do Protocolo Shelter Quality (SQP), alguns estudos vêm sendo conduzidos em países europeus, mas no Brasil os dados ainda eram escassos. Este estudo objetivou gerar, por meio da aplicação do SQP (desenvolvido por ARENA; BARNARD; DALA VILLA, 2017), uma análise descritiva do grau de bem-estar de abrigos de cães da mesorregião do Sul/Sudoeste de Minas Gerais, tanto públicos quanto privados, comparando-os com abrigos referências e com o preconizado em guias internacionais, pontuando melhorias necessárias em curto e médio prazo”.

Como solucionar essa questão?

Questionada sobre quais devem ser as políticas para aprimorar as condições dos abrigos da mesorregião do Sul/Sudoeste de Minas Gerais e, consequentemente, o bem-estar dos animais, Diana observou que há alguns pontos críticos que necessitam de intervenção em curto-médio prazo:

  • políticas efetivas de adoção de cães;
  • políticas mais claras de admissão dos animais;
  • controle do número de entradas e saídas de cães;
  • programas de saúde preventiva;
  • controle de reprodução;
  • equipe do abrigo treinada, incluindo gestores, funcionários e voluntários;
  • cama em quantidade e qualidade necessárias para que os cães se deitem confortavelmente quando alojados nos recintos;
  • áreas para soltura dos cães como forma de implementar rotina de exercícios;
  • reabilitação comportamental, incluindo a implementação de programas de enriquecimento ambiental;
  • adequação de regime alimentar;
  • diminuição da população dos abrigos;
  • e aumento do número de funcionários.

A pesquisadora ainda alerta que, concomitantemente, os municípios devem implementar programas efetivos de manejo populacional de cães e gerenciamento de recursos públicos necessários para a manutenção adequada dos animais, tornando os abrigos locais TEMPORÁRIOS, onde os animais são reabilitados, ressocializados e reintroduzidos na sociedade por meio de adoção.

De acordo com Diana, essa ação é necessária porque, “como efeitos colaterais do recolhimento indiscriminado de cães em abrigos, percebe-se a ocupação das ruas por novos animais e sua rápida reprodução pela disponibilidade de recursos (alimento e abrigo), além da influência da falta de responsabilidade de tutores quanto à sanidade, castração dos animais e restrição do seu acesso às ruas. Ainda, existe uma falta de marcos regulatórios que definem os requisitos mínimos para que os abrigos sejam locais ideais”. Ela ainda destaca que os abrigos só devem ser usados como centros de recolhimento transitórios, “para animais que exijam cuidados devido a um atropelamento, ou castração, ou fêmeas recém paridas, por exemplo. Após o tempo necessário para que recebam estes cuidados, se não forem adotados ou encaminhados a lares temporários, estes animais devem ser devolvidos ao local de recolhimento (nas ruas). Este tipo de manejo é mundialmente reconhecido e muito mais eficaz para o manejo populacional e saúde única e chama-se CEDV (captura, esterilização, vacinação e devolução)”.

Como realizar adoções responsáveis?

Adotar um animalzinho é um ato de carinho e amor. No entanto, quem interessar em cuidar de um animalzinho e levá-lo para sua casa, deve se atentar a alguns pontos.

A adoção deve ser realizada com responsabilidade para que não haja problemas para ambas as partes. A professora Diana explica que para adotar um cão ou qualquer outra espécie de animal doméstico, “devemos ter em mente que aquele ser tem necessidades inerentes à sua espécie e individuais, e que viverá (no caso de um cão de porte médio) cerca de 10 a 15 anos. Não é um objeto que pode ser descartado ou deixado de lado quando enjoamos ou quando há uma mudança em nossa rotina, como a chegada de um filho, a mudança para um apartamento ou a perda do emprego. Ele também exige um gasto financeiro com alimentação balanceada, idas ao veterinário e medicamentos quando necessários”.

Diana ainda sugere que quem não tiver certeza ou estabilidade para adotar, poderá contribuir cuidando de um animal comunitário (oferecendo castração, alimento, cuidados veterinários) ou apadrinhar um cão de abrigo. “Muitos abrigos precisam de voluntários para interagir com seus cães e gatos. Isso significa ir com certa frequência até o abrigo para brincar, passear, dar petiscos e etc".

TEXTO: ASCOM

IMAGENS: Acervo dos autores

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