A história de um homem que escolheu o Campus Muzambinho

Publicado: Segunda, 13 de Novembro de 2023, 14h44 | Última atualização em Terça, 14 de Novembro de 2023, 07h47

9Q6A6003O personagem dos 70 anos que terá sua trajetória narrada nas linhas a seguir começou sua história com a Escola Agrotécnica de Muzambinho antes mesmo de fazer parte da Instituição. Nós iremos conhecer diversas passagens da vida de Luiz Carlos Machado Rodrigues, nascido na cidade de Capela Nova - Minas Gerais, filho de Francisca Machado de Carvalho e Antônio Rodrigues de Carvalho. Luiz teve dois filhos com Rosângela (in memoriam), Ana Carolina (in memoriam) e Luiz Gustavo. Atualmente celebra a chegada do primeiro neto, o Guilherme.

A infância de Luiz Carlos foi em meio a zona rural, os pais e os avós lidavam com a propriedade rural que tinham e depois o pai começou a trabalhar com a industrialização de produtos de origem animal. Nessa época, após concluir o primário, Luiz Carlos foi estudar em um seminário e lá ficou por cinco anos. No seminário, além do processo de formação religiosa dos alunos, também havia os serviços da fazenda e todos aprendiam a lidar com a terra e com os animais.

Na sequência, Luiz Carlos ingressou no Curso Técnico em Agropecuária, na cidade de Barbacena e, assim que se formou, começou seus estudos em Lavras, cursando Agronomia. Logo no segundo semestre da faculdade, o jovem já atuava como monitor no Departamento de Agricultura e não demorou para ser convidado a lecionar. O prefeito de Perdões estava precisando de um professor e o coordenador do departamento de agricultura da ESAL indicou Luiz Carlos para o cargo.

Luiz começou ali sua jornada como docente, ele estudava e lecionava ao mesmo tempo. Durante seu período como professor em Perdões, o jovem professor veio até a Escola Agrotécnica de Muzambinho para visitar e se inteirar das metodologias de ensino para que pudesse aprimorar seus conhecimentos e evoluir como professor. Aqui foi o primeiro capítulo da história de Luiz com Muzambinho.

Antes de concluir a faculdade de Agronomia, Luiz Carlos estava lecionando e trabalhando em uma fazenda, folga não fazia parte da rotina do jovem. Quando faltava pouco para se formar, Luiz Carlos apresentou um trabalho para o senhor Oscar Lamounier Godofredo Júnior, o Diretor da COAGRI - Coordenação Nacional do Ensino Agropecuário, órgão ligado ao Ministério da Educação e Cultura e foi convidado a trabalhar em Brasília - Distrito Federal.

Assim que se formou, Luiz Carlos foi trabalhar na COAGRI e chegou a visitar todas as Escolas Agrotécnicas do Brasil. Com as demandas do serviço, era preciso que Luiz iniciasse um curso de Pedagogia e no momento do estágio, lá estava Luiz escrevendo o seu segundo capítulo na história com a Escola Agrotécnica de Muzambinho. Ele escolheu a Instituição para vir desenvolver o seu estágio e por aqui ficou cerca de 65 dias.

Nesta época, após sua primeira visita a Muzambinho em 1980, Luiz Carlos já via o potencial da Escola. Ele conta que o lugar era lindo, bem localizado, um centro regional e tinha potencial para se tornar uma referência.

O primeiro trabalho de Luiz Carlos na COAGRI foi com a implantação das Cooperativas-Escola. “Naquela época eu implantei primeiro na Rede Federal, depois eu comecei a implantar nas redes estaduais, municipais e até em escolas privadas. Nas Agrotécnicas tinham a cooperativa escolar e a cooperativa-escola assumiu a fazenda, podendo administrar seus projetos e a comercializar seus produtos. Nessa condição eu tive a oportunidade de ver todas as experiências que as escolas desenvolviam e eu aprendi demais, porque eram muitas Instituições do Amazonas até o Rio Grande do Sul, cada uma com suas pecualiaridades”.

Luiz Carlos também trabalhou a frente do Departamento Pedagógico do MEC, atuando com os aspectos educacionais e produtivos de todas as Escolas Agrotécnicas. Foi nesse período em que os conteúdos mínimos de cada disciplina foram implantados e foi possível homogeneizar a matriz básica das escolas. Em sua trajetória, Luiz Carlos revela que sempre viu nos obstáculos oportunidades de superação e aprendizado.

A rotina de trabalho era intensa e Luiz Carlos e Rosângela estavam com uma filha pequena, era o momento de buscar uma cidade menor, diminuir a intensidade do trabalho e se dedicar mais à família. Para ele, a família sempre teve um destaque único em sua vida. Nesta ocasião, o destino de sua família poderia ser em qualquer uma das cidades com uma Escola Agrotécnica, mas a sua escolha foi assumir o cargo de docente na Escola Agrotécnica Federal de Muzambinho, em 1987. “Foi uma escolha bastante consciente, por ter conhecido e vivido no seu dia-a-dia e eu pensava muito no futuro dessa instituição pela sua capacidade de desenvolver e crescer, então foi por isso que decidi vir com a minha família para Muzambinho.”

A Escola de Muzambinho ainda era pequena comparada ao IFSULDEMINAS - Campus Muzambinho e tinha suas particularidades. Para o professor, o fato de serem poucos servidores e alunos propiciava o ambiente familiar, onde todos eram próximos e se tratavam pelos apelidos. Era chamando o apelido de cada aluno que Luiz Carlos realizava as suas chamadas em sala de aula. Inclusive os seus filhos cresceram dentro da Escola, com contato direto com os alunos. O ponto que ele vê como negativo no crescimento é o distanciamento natural que acontece, pois, a quantidade de pessoas aumenta significativamente e o contato constante passa a ser reduzido.

Ao chegar na Escola, o professor assumiu o Setor da Agricultura III que desenvolvia as culturas perenes. Ali, ele começou a desenvolver um trabalho e foi implantando a metodologia de ensino que acreditava: Autogestão, aplicando a prática em todas as turmas. Luiz Carlos ministrava as aulas teóricas e deixava na responsabilidade dos estudantes as tarefas práticas dos setores, bem como, a produção dos projetos. Na sexta-feira, todos tinham que apresentar o que haviam desenvolvido e os próprios colegas avaliavam as atividades dos outros.

A metodologia funcionou, os estudantes poderiam ir para os alojamentos ou descansarem, mas sabiam das suas responsabilidades e não deixavam de realizar os trabalhos necessários para que o setor ficasse sempre em ordem e com a produção exemplar. “Eu dava responsabilidade para eles de uma maneira muito discreta, sem falar que eles estavam com responsabilidade, mas eles assumiram isso. Eu sempre vinha na escola no final de semana e eles estavam trabalhando para colocar o setor em dia. [...] Eles tinham essa responsabilidade, me engrandeceu muito, porque realmente as pessoas estavam sendo formadas para depois serem autônomas e terem responsabilidade no exercício de homem e profissional”. Os alunos faziam e apresentavam o planejamento que seria executado no setor, Luiz Carlos corrigia quando necessário e eles executavam todas as tarefas.

9Q6A5958A vinda de Luiz Carlos para a Escola foi pouco tempo depois das turmas do curso técnico em Agropecuária serem mistas. Ele conta que o ambiente era respeitoso e as jovens se davam o respeito. O ritmo da sala de aula era ditado pelas mulheres e ele percebeu a importância do papel feminino para a mudança de comportamento no ambiente. “De uma maneira bastante natural, [as mulheres] fizeram com que dentro daquele ambiente houvesse mais humanização. Eu vi que em qualquer ambiente que se coloca mulheres, a humanização prevalece”. O alojamento feminino foi implantado quando Luiz Carlos foi o Diretor-Geral e em sua equipe de trabalho sempre contou com mulheres em cargos de liderança, buscando equilibrar as decisões e propostas de trabalho, bem como, segundo ele, “temperar a obra a ser realizada com eficiência, sentimento e amor”.

Fato que Luiz Carlos recorda-se orgulhoso é sobre o trabalho que desenvolveu junto ao refeitório. Mesmo não tendo experiência sobre alimentação ou preparo de alimentos, ele propôs aos funcionários que fizessem sempre a melhor comida que poderia ser feita com os ingredientes disponíveis. Na época era servido muito frango e os alunos brincavam que “iam voar”. Outro ponto foi mudar a posição da mobília do refeitório constantemente, pois havia percebido que o comportamento mudava quando os alunos não estavam em uma zona de conforto. A função do monitor também foi retirada, eles próprios deveriam compreender que as pessoas e a fila deveriam ser respeitadas, assim como o espaço do outro. Luiz também liberou para que os alunos se servissem, não havia mais a necessidade de um funcionário para colocar os alimentos nos pratos dos jovens. A padaria para fornecer pães e bolos também foi criada na mesma época e uma quarta refeição incluída, o lanche da noite.

Chegou o momento em que Luiz Carlos ficaria um pouco afastado da sala de aula, ele assume a Diretoria de Desenvolvimento Educacional, na gestão do professor Rômulo Bernardes. A função de DDE fazia dele vice-diretor da Escola Agrotécnica Federal de Muzambinho e o responsável pelo ensino-produção.

9Q6A5945Por acreditar que a educação deve ser levada para todos os lugares, de modo que a população tenha acesso, foi criada uma parceria com 25 prefeituras para a oferta de Cursos Técnicos Presenciais nos municípios da região.
A implantação da Educação a Distância é algo que Luiz Carlos lembra orgulhoso do período em que foi DDE da Escola Agrotécnica. Ele foi um dos responsáveis pela implantação da modalidade de ensino em Muzambinho. Os primeiros cursos ofertados foram o de Técnico em Cafeicultura e Informática, logo no início, o Campus já contava com seis polos (Alfenas, Três Pontas, Boa Esperança, Juiz de Fora, Timóteo e Cataguases) e em cada município abriam duas turmas de 40 alunos. Com o aumento no número de estudantes, a Instituição pôde buscar mais recursos junto ao MEC. “Nós aprendemos a trabalhar com uma outra maneira de levar conhecimento, uma maneira mais atualizada, mais tecnológica e que atendesse mais a realidade do aluno. Durante a gestão, ampliamos as parcerias e atingimos mais de 40 municípios como sede de polo”.

Luiz Carlos assume o cargo de Diretor-Geral quando o professor Rômulo Bernardes se torna o primeiro Reitor do IFSULDEMINAS. O professor passa a ser o primeiro Diretor-Geral do IFSULDEMINAS - Campus Muzambinho. A Escola Agrotécnica integra o recém criado Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais, ao lado das escolas das cidades de Machado e Inconfidentes.

Houve uma grande negociação para que fosse criado o IFSULDEMINAS, a ideia era que a Escola Agrotécnica fosse ligada a outro Instituto Federal. “Na época, o professor Rômulo e eu fomos lutar em Brasília para criar um Instituto próximo da nossa região e foi criado uma Instituição pequena: IFSULDEMINAS”. O início foi complexo, a Instituição passou por uma mudança de pensamento para se adequar à nova realidade, ou seja, compunha um dos Institutos Federais do Brasil. Com o decorrer do tempo, a situação foi sendo modificada e os moldes foram adaptados.

O professor Luiz Carlos acompanhou o professor Rômulo, diretor da época, na empreitada para conseguir adquirir a Faculdade de Educação Física de Muzambinho. Ele explica que o diretor tinha uma grande ligação com a Faculdade, foram buscar recursos no Ministério da Educação e conseguiram adquiri-la. A Faculdade de Educação Física passou a funcionar assim que Rômulo foi para a Reitoria e Luiz Carlos ocupou o cargo de Diretor. O Lyceu, escola que funcionava junto à Faculdade, passou a ser gerenciada por uma fundação ligada ao Campus Muzambinho, a FAET (Fundação de Apoio a Educação Tecnológica) e investimentos foram feitos para que toda estrutura de laboratórios e equipamentos fossem ofertados para os estudantes de Educação Física.

O trabalho de Luiz Carlos na Gestão começou voltado para as acomodações dos estudantes, ele encarava que os alojamentos tinham muitas pessoas em um mesmo quarto. As energias foram voltadas para que a Moradia Estudantil fosse construída, atualmente a Instituição conta com três prédios, com apartamentos para até seis alunos. A implantação do alojamento feminino ocorreu durante a gestão de Luiz Carlos, ele foi bastante criticado na época, mas apostou na proposta e o Campus Muzambinho passou a ofertar moradia para as estudantes mulheres.

Os laboratórios começaram a ser criados, assim como o Setor de Cafeicultura. Luiz Carlos conta que o Campus participou de um edital que envolvia entidades de todo o Brasil e ficou muito bem classificado, conseguindo toda a infraestrutura do espaço para o Laboratório de Bromatologia. Ele explica que a Escola Fazenda já existia e era necessário criar os ambientes de apoio, no caso, os laboratórios.

Logo que a unidade tornou-se Campus do IFSULDEMINAS, 18 vagas de professores foram destinadas para Muzambinho. O professor explica que era necessário buscar e trilhar caminhos para conseguir concretizar avanços. “Nós pensávamos na expansão, na ampliação”. Foram criados mais cursos técnicos e mais cursos de graduação foram sendo implantados: Ciência da Computação e Ciências Biológicas. Os cursos de Bacharelado e Licenciatura em Educação Física começaram a funcionar, logo criou-se o curso de Bacharelado em Engenharia Agronômica e implantado o Curso de Bacharelado em Medicina Veterinária, algo bastante trabalhoso, pois nem todos os Campi do IFSULDEMINAS eram favoráveis.

9Q6A5981O espaço físico da Instituição começou a ganhar uma nova forma. Ele afirma que novos rumos foram tomados, mas para a escola crescer, era necessário pensar na realização de obras sustentáveis e que fossem utilizadas ao longo dos anos. A Guarita foi modificada, a via de acesso dentro da Instituição foi duplicada, o calçamento de toda escola foi feito, uma ponte foi construída, a iluminação do trevo para travessia de pedestres foi instalada, o lago para a canoagem foi criado. “Começamos a trabalhar de uma outra maneira, em termos do crescimento da Instituição. Nós tínhamos os argumentos, porque estávamos mostrando o que era feito e as pessoas acreditavam”.

9Q6A5971O espaço onde atualmente está localizado o Hospital Veterinário foi construído inicialmente para atender ao Projeto do Cão Guia para atuar com pessoas com deficiência visual. O Campus participou de um edital do Ministério da Educação e foi contemplado, uma professora chegou a realizar o curso no Sul do Brasil, os cães foram comprados, mas com a mudança de Governo na época, o Projeto foi extinto. Outro espaço construído durante a gestão do professor Luiz Carlos é o Free Stall, que contou com o auxílio direto do professor Marcelo Rosa. O professor também relembra empolgado a participação do Campus em processos de licitação. Ele relembra, por exemplo, que o Campus ganhou a licitação da Secretaria de Assistência Social e foi responsável por ministrar cursos no CRAS (Centro de Referência de Assistência Social).

Entre as ações realizadas durante a gestão do professor Luiz Carlos é possível citar as melhorias na Enfermaria da Instituição, com o objetivo de atender a saúde dos estudantes de forma mais humanizada e digna. Houve a aquisição de equipamentos, medicamentos, ambulância e profissionais foram contratados para atender aos alunos 24 horas por dia, sete dias por semana. Para os servidores foi implantado o Projeto Vida Saudável com atividades de ergonomia, esporte, lazer e atividades físicas. No Campus foi instalado o projeto de acessibilidade em todos os ambientes, vias de acesso e na estrutura física.

Aproximadamente 1800 pessoas da comunidade externa ao Campus, por semana, puderam participar do Projeto de Extensão que ofertava atividades físicas, esporte, lazer e cultura com a presença de monitores e bolsistas orientados por professores. Eram atendidos idosos, alunos das escolas, inclusive da APAE, asilo e pessoas interessadas em participar. Havia um ônibus que realizava o transporte.

A experiência do EaD proporcionou uma parceria com diversos municípios da região, envolvendo escolas Municipais e Estaduais, com a oferta de capacitação para professores e servidores no uso da informática em sala de aula como facilitador do processo ensino aprendizagem. Em parceria com a Polícia Rodoviária Federal, cursos à distância sobre Educação no Trânsito foram ministrados para alunos da Educação Básica das escolas Estaduais e Municipais do Brasil todo, inclusive Muzambinho.

O Campus Muzambinho ministrou cursos profissionalizantes na área de construção civil para presidiários do Estado de Minas Gerais e construiu uma sala de aula em cada presídio como aula prática dos cursos ministrados. A oferta foi em parceria com o Ministério da Justiça e Secretaria de Segurança Pública.

Luiz Carlos se despede da entrevista agradecendo todas as pessoas que trabalharam com ele e que acreditaram em suas propostas. Ele destacou a atuação de todos que passaram por aqui, principalmente seus alunos. O professor termina com uma mensagem: “Aproveitem a oportunidade de estudar em uma Instituição grandiosa, em todos os sentidos, valorizem tudo aquilo que foi feito com o suor, com o trabalho das pessoas que aqui passaram e façam realmente dessa instituição, uma instituição de nome Nacional. Principalmente levando as características que o Campus Muzambinho nunca deixou de ter. Em qualquer lugar que estejam, o Campus Muzambinho sempre foi o Campus Muzambinho. Ele tem uma identidade própria e essa identidade nós temos que continuar carregando. [...] Muitos municípios gostariam de ter uma escola igual a essa e como nós temos… vamos valorizá-la”.

Texto e fotos: ASCOM - Campus Muzambinho

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